É mais um jogador que tem todas as condições reunidas para ter uma longa e respeitada carreira. Januário Jesus é apenas mais um exemplo de como a academia do Sporting, em Alcochete, é um local fantástico para os jovens desenvolverem as suas qualidades. Os miúdos chegam ao centro de estágio bastante novos e são lhes oferecidas todas as condições para evoluírem quer enquanto futebolistas quer a nível intelectual. É isso que, provavelmente, tem feito a diferença. Os exemplos são mais que muitos, por isso torna-se repetitivo estar a enumerá-los.
Centremo-nos em Januário dos Santos Jesus. É extremo-esquerdo e tem 17 anos, feitos a 22 de Junho. É algarvio, de Olhão, e chegou ao Sporting quando tinha 11 anos para jogar nos infantis. Assumiu-se quase sempre como titular até aos juvenis, tendo já sido convocado para as selecções nacionais jovens. A partir da próxima época vai representar os juniores do Sporting de Braga, isto depois de deixar o Sporting.
Dentro de campo, Januário é um desequilibrador nato, utilizando a velocidade como a sua principal arma. Depois é imprevisível, uma arma típica dos jogadores que jogam nas alas. Fora das quatro linhas é uma pessoa simples e igual a todas as outras. Peca, de acordo com a mãe Dina, por nunca se ter dedicado com afinco à escola, algo que também é valorizado na academia dos leões e que poderá ter estado na origem (entre outras coisas) da sua saída do Sporting.
De Olhão para Lisboa
Januário desde cedo que não enganou. A sua paixão sempre foi o futebol. "Começou a jogar aos cinco anos com os amigos. Eu nem queria que ele começasse, mas de pouco adiantou a minha vontade. Ele foi ao Marítimo Olhanense e ficou. Jogou lá até aos 11 anos, altura em que foi para o Sporting, e foi sempre titular. Na verdade ainda não me habituei à ideia de ele ser jogador de futebol", começa por contar Dina de Jesus ao Academia de Talentos.
A vinda para o Sporting aconteceu depois de uma excelente exibição na final num torneio com o Louletano. "Vieram buscá-lo a seguir ao jogo. Veio ter comigo um senhor que era olheiro e explicou-me que estava interessado em que o Januário fosse para o Sporting. Ele foi treinar ali a Pina Manique e ficou logo, foi o único que foi escolhido", explica a mãe do jovem extremo.
Os primeiros tempos foram muito complicados para a família Jesus, já que Januário tinha de viajar todos os fins-de-semana para Lisboa para jogar: "Nos dois primeiros anos de infantil tínhamos de o levar a Lisboa. Ele treinava aqui durante a semana e ao fim-de-semana jogava pelo Sporting. Ele só entrou para a academia com 13 anos, ou seja, há quatro temporadas, por isso foram tempos muito complicados. Levantávamo-nos cedo no dia do jogo para viajar até Lisboa e depois tínhamos de regressar, sabendo que íamos trabalhar no dia seguinte. Eu trabalho num supermercado e é muito complicado", diz Dina.
Os tempos solitários da Academia e a escola
A aventura na academia dos leões trouxe coisas boas e más. As positivas são o facto de ajudarem as pessoas a crescer psicologicamente, as negativas estão relacionadas com as saudades da família e dos amigos, que invariavelmente vão ficando para trás. "Ele deixou tudo aqui em Olhão, nomeadamente a família e os amigos. Por isso é que quando ele vem para cá, como por exemplo acontece agora que está de férias, ele não pára em casa. Foram anos muito complicados, mas para ele também foi bom porque fez com que ele se desembaraçasse sozinho. O problema é que às vezes, nos momentos mais complicados, ele não tinha ninguém para lhe dar carinho. E todos nós precisamos de carinho", afirma a mãe de Januário.
Quando questionada sobre se Januário gostava da escola, Dina é esclarecedora. "Ele nunca gostou de estudar. Até à quarta classe foi tudo muito bonito. Ele fazia os trabalhos de casa todos os dias e aplicava-se muito, mas a partir do quinto ano tudo mudou e ele começou a dizer que a escola não lhe interessava. Neste momento ele não tem o 7º ano feito e acho que não está a pensar completá-lo brevemente. O mal dele foi encarar a escola desta maneira", lamenta.
O facto de não ser um aluno aplicado pode ter sido um dos motivos que levou à sua saída do Sporting. A mãe de Januário concorda que por vezes sejam aplicados alguns castigos aos jovens jogadores, mas não põe de parte algum excesso de rigor. "Ele foi quase sempre titular no Sporting, mas a forma que o clube encontrava para o castigar era retirar-lhe aquilo que ele mais gostava de fazer, que era jogar futebol. Muitas vezes ia para o banco e ficava danado por isso porque tem uma personalidade muito forte, mas nós sempre dissemos que não podia ser assim", sublinha Dina.
A mãe de Januário vai mais longe: "Ele pensava que tinha amigos na academia, mas com o tempo percebeu que não era bem assim. O Januário contou que o senhor Jean Paul disse que havia outros miúdos que faziam queixas dele. ‘Quem tu pensas que são os teus amigos batem à minha porta para dizer isto e aquilo', dizia o senhor Jean Paul."
Próxima etapa: Sp. Braga
Depois de representar o Sporting nos últimos cinco anos, Januário assinou por quatro épocas com o Sp. Braga. Dina diz estar "um bocadinho nervosa" com esta nova aventura do filho, mas, ao mesmo tempo, mostra-se contente com a decisão. "É uma nova oportunidade para ele poder relançar a carreira, até porque ainda é muito novo. Tem de se apresentar segunda-feira no campo para iniciar a pré-época. Para nós (pais) agora ainda vai ser mais complicado vê-lo, porque são 1200 quilómetros de distância. Ele vai voltar a viver sozinho, mas está animado com esta experiência, sente-se bem por poder jogar no Sp. Braga, que também é um clube muito bom", revela a mãe do jovem jogador.
Dina adianta que, desta vez, não houve contactos de Benfica e F.C. Porto a sondar se havia possibilidade do filho se transferir. Desta vez porque, conta, os encarnados já tentaram "roubar" Januário ao Sporting. "Foi há dois anos. O Benfica queria o Januário numa altura em que ele estava castigado pelo Sporting. Devem ter sabido disso e tentaram contrata-lo, mas ele ficou em Alvalade", salienta.
Quando confrontada com a questão: quais são as principais qualidades de Januário? Dina quase fica sem palavras, mas depois lá desenvolve o raciocínio: "Para mim é muito difícil definir o Januário enquanto jogador (risos). Sei que ele disputa todos os lances como se fossem o último. Por ele jogava até partir as pernas... Sem dúvida que uma das grandes qualidades dele é a raça que tem dentro de campo. Depois também é muito rápido e tem muito boa técnica."
A paixão pelo futebol é algo que está no sangue de Januário. Dina diz que "chegou a ter 20 bolas debaixo da cama" e que sempre que Januário "saía de casa levava uma bola". "Ele vive para o futebol", conclui.
Nome: Januário dos Santos Jesus.
Clube: Sporting Clube de Braga.
Posição: Extremo-esquerdo.
Data de nascimento: 22-06-1991.
Nacionalidade: Portuguesa.
Altura: 1,72 metros.
Peso: 68/70 kg.