sábado, agosto 18, 2007

João Tomás na 1ª pessoa

Como está a viver o regresso a Portugal?

João Tomás – Dentro da maior normalidade. Eu sempre disse que se voltasse ficaria encantado, caso contrário também era bom, porque já estava adaptado ao Qatar, onde já tinha passado um ano.

– Que diferenças encontrou entre o Sp. Braga que deixou e este que encontra um ano depois?

– Acima de tudo na equipa técnica. O meu último treinador foi Jesualdo Ferreira, saí na época seguinte logo de início, quando ia ser treinado por Carvalhal e agora encontro Jorge Costa. A última pessoa que ficou e com quem tinha trabalhado foi o professor José Pedro.

– Este Sp. Braga é candidato ao título?

– É difícil fazer uma afirmação dessas. Temos de pensar que o objectivo é tentar espreitar a oportunidade de nos intrometermos na luta dos grandes, com máxima dedicação e entrega.

– Esteve no Qatar e agora regressa a Portugal. Como era a sua vida na Arábia?

– Muito pacata. Era uma vida em família. Aliás, até às 18h00 era preciso arranjar actividades para me entreter, pois só treinávamos a partir dessa hora, devido às elevadas temperaturas. Durante o dia os termómetros chegavam aos 45 graus. Só a partir das 17h30 é que escurecia e podíamos treinar já em horário nocturno, porque antes o calor era sufocante. Enquanto não chegava à hora do treino, levava a minha filha ao colégio inglês e passeava com a minha mulher ou ficava em casa.

– Do que é que sentiu falta?

– Do frio (risos), sem ser o do ar condicionado, e da carne de porco. Não há porco. Bebidas alcoólicas podiam ser compradas em estabelecimentos específicos.

– Perdeu dinheiro com a saída do Qatar?

– Não posso dizer isso, porque lá não foi exercido o direito de opção a tempo – eu estava na selecção – e o Sp. Braga podia fazer-me regressar, porque tenho mais um ano de contrato. Se ficasse lá, estaria a ganhar mais, mas assim também estou bastante feliz.

– E portugueses, encontrou alguns?

– Vários. Curiosamente encontrei um de Oliveira do Bairro, meu conterrâneo. Lembrava-me dele e da família. Os ‘cameramen’ das televisões são em muitos casos portugueses.

– Foi um dos últimos grandes goleadores do Benfica, com 17 golos em 31 jogos. Acha que ainda poderia estar no Benfica?

– Não me cabe a mim responder. Prefiro dizer que, pelo que fiz nos últimos três anos, poderia ser útil a um dos três grandes. Poderia merecer essa oportunidade, era uma questão de justiça. Mas sinto-me muito bem em Braga, onde sou bem tratado e não penso nisso.

– Mas já tinha pensado no facto de ter sido um dos últimos grandes goleadores do Benfica?

– Já me ocorreu que fui um dos jogadores portugueses que renderam dinheiro ao Benfica, de um grupo com Meira, Nuno Gomes, Tiago, Ricardo Rocha e Simão.

– O que significaram para si esses 17 golos pelo Benfica numa época?

– São números que me orgulham, até porque não era um titular indiscutível e cheguei já com a época a decorrer.

– Há algum passo da sua carreira de que se arrependa?

– Há um, sim, mas não vou revelar qual.

– Gosta que o tratem por Jardel de Coimbra?

– Não, não gosto que me chamem Jardel de Coimbra. Se até determinada altura fazia sentido, depois deixou de fazer. Ainda ouço isso, quanto mais não seja dos meus colegas para me provocarem.

– Jogou contra o Jorge Costa, agora ele é seu treinador. Em que funções o Jorge Costa é menos chato?

– (risos) É muito mais fácil lidar com ele como treinador. Como jogador, não dava espaço nem descanso.

– Tem algum episódio caricato vivido com ele e que agora tivessem recordado?

– Por acaso tenho. Num Vitória de Guimarães-FC Porto, em que me anularam um golo por alegadamente ter tocado na perna dele e ainda hoje não percebo porquê. Ele diz que eu lhe toquei, eu digo o contrário e cada um fica na sua.

– No Sp. Braga reencontrou outra grande figura do futebol, mas ainda a jogar: o João Pinto. Como foi o reencontro?

– Sim, joguei seis meses com ele no Benfica e rimo-nos quando nos encontrámos. O João Pinto foi um dos melhores jogadores com quem joguei, tal como Miguel Bruno, Van Hoijdonk, Denilson e Joaquin. É um privilégio jogar com João Pinto.

– Passou pelo Bétis, o novo clube de Ricardo. Acha que ele vai triunfar?

– Estou convencido que sim. O clube e a cidade são excelentes. Falámos num estágio da Selecção quando o Bétis era apenas uma possibilidade. E entendo que fez uma boa escolha. Sevilha é uma cidade que me diz muito. A minha filha mais velha nasceu lá.

– Aos 32 anos, acha que ainda vai a tempo de voltar a representar um grande?

– Sinto que sim, mas não adianta falar sobre hipóteses sem consistência. Não tenho convites.

– Sente-se como o Vinho do Porto, ou seja, quanto mais velho melhor?

– (risos) Por acaso sinto. Os jogadores com 30 anos ou perto disso, fazem coisas muito melhores do que quando tinham 20 ou 25. Vai-se aprendendo coisas que só se conseguem com a experiência. Nisso trabalhar com Jesualdo Ferreira foi um privilégio.

– Aos 32 anos, é o jogador mais velho na convocatória da Selecção para a Arménia. Sente-se o pai de todos eles?

– (risos) Encantado. O que interessa é estar a representar a Selecção. Sinto-me como eles ou, se calhar, até como mais novo.

– Esperava ser chamado à Selecção a jogar no Qatar?

– Sabia que era complicado, mas não impossível. A prova disso é que Scolari chamou-me para dois jogos, um deles a Bélgica. Estou extremamente orgulhoso.

– Que opinião tem de Scolari?

– É uma pessoa com personalidade forte, compreensivo e correcto com os jogadores. Daí o grande sucesso.

– Como perspectiva o jogo com a Arménia?

– Será um jogo muito difícil e importante, teremos de estar especialmente concentrados, sabendo que um resultado positivo nos trará perspectivas muito boas de apuramento.

– O empate é um desaire?

– Um desaire será perder. Não ganhar pode não ser um desaire.

in correio da manha

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